Direcionamentos Futuros
Para concluir, apresentam-se alguns possíveis próximos passos que poderiam guiar a evolução futura do presente estudo. Em especial, são discutidas possíveis rotas para se avançar do monitoramento das intervenções em territórios urbanos vulneráveis (a partir do painel de indicadores construído) para a avaliação de impacto dessas intervenções.
O painel de indicadores proposto pode servir como base para avaliações mais robustas que permitam não apenas acompanhar a evolução de intervenções, mas também determinar em que medida as mudanças nos indicadores são causadas pelas intervenções em questão. Essa noção de causalidade está intimamente associada ao processo de avaliação de impacto.
A avaliação de impacto permite associar, de forma causal, uma intervenção às mudanças observadas nos indicadores de uma população-alvo e devem, de algum modo, considerar o que teria acontecido com a população-alvo caso a intervenção não tivesse ocorrido. Esse é o chamado cenário contrafactual.
Na prática, análises contrafactuais dependem da construção de um grupo de controle. Há muitos desafios práticos associados à construção de grupos de controle e à avaliação de impacto de maneira mais geral. Esses desafios podem ser ainda maiores no contexto de intervenções em territórios urbanos vulneráveis.
De maneira geral, seguindo a metodologia discutida no Guia de Avaliação de Impacto Socioambiental do Insper Metricis (2020), é possível pensar a avaliação de impacto em diferentes níveis de medição, os quais diferem em termos da qualidade do grupo de controle construído e do custo. Uma técnica comumente usada para casos de intervenções que ocorrem no nível de territórios é o chamado controle sintético. No contexto do presente estudo, pode-se selecionar um território focal (como o Jardim Lapena) e, então, examinar dados de outros territórios vulneráveis. Tomando-se uma série de resultados de interesse, a técnica permite criar um “território sintético” que pode envolver diferentes outros territórios combinados com pesos distintos e cuja evolução espelha aproximadamente a do território focal.
O nível de medição mais elevado em termos de precisão na identificação de causalidade é o chamado experimental, que exige que a seleção ao tratamento (isto é, a participação na intervenção) seja por sorteio. No caso de governos que selecionam deliberadamente os territórios que irão receber as intervenções, esse procedimento por sorteio não é, evidentemente, factível. Porém, é possível realizar avaliações experimentais no caso de intervenções variando dentro de um mesmo território ou entre territórios.
Por fim, a análise realizada sugere que algumas políticas e práticas podem facilitar a construção de painéis de monitoramento e processos de avaliação. Em particular, torna-se clara a necessidade de se coletarem dados primários e secundários nos territórios para progressivamente formar uma linha de base. Conforme se destacou na seção anterior, todas as ferramentas examinadas – incluindo as técnicas de monitoramento – dependem de dados históricos, que antecedam a implementação de qualquer intervenção. Portanto, a fim de que o painel de indicadores seja, de fato, útil na prática, é essencial coordenar esforços de coleta de dados – seja por meio de coleta primária ou de bases de dados já existentes – preferencialmente antes do início de intervenções de cunho mais amplos.
A teoria de mudança proposta neste estudo pode ser aplicada a outros territórios no município de São Paulo e até mesmo a outros municípios e estados. E, a partir destas novas aplicações, pode ser refinada. Tal refinamento deverá refletir-se não apenas nas inter-relações entre os diversos temas ligados ao desenvolvimento de territórios vulneráveis, mas também no conjunto de indicadores criado para monitorar – e, eventualmente, até mesmo avaliar – o impacto de intervenções propostas e realizadas em cada localidade.